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Madeira In and Out

Não perca o polvo

By Aqui Perto 951 Comments
Já está no Porto Santo? Não podia estar em melhor lugar, esta noite e nos próximos dias. Aproveite e conheça a gastronomia da ilha, num cenário que dificilmente encontrará em qualquer lugar na sua vida.
Sei que cada um diz que a paisagem que vê é melhor e mais bonita do que a do vizinho, mas garanto que comer um “polvo à calheteiro” no restaurante que experimentei reveste-se de uma magia especial. Especial? Não. Saborosa…

Meti-me à descoberta dos encantos cada vez mais renovados do Porto Santo. Nova roupagem, diz-se, nos tempos modernos. Com roupa ou com molho, a questão central aqui vai para os pratos, numa carta cuidadosamente preparada para o Verão. De facto, provar aquela que será certamente uma das grandes propostas do Verão foi uma experiência que aconselho.

Carpacho de polvo é outro dos pratos que pode ser degustado naquele cenário. Embrulhado, sem cabeça, seja lá o que for que me explicam, servido com acompanhamentos frescos de Verão. Mas há também ovas de espada fritas, bifes de atum com milho frito e espigos, bacalhau à lagareiro e um tornedó com batata doce e abóbora, são algumas das novas “roupagens”, dizem eles, do restaurante.

Agora, já que vai ao “Ponta da Calheta”, que apesar de estar com ofertas novas já faz parte do roteiro do Porto Santo, não deixe de aproveitar a paisagem única que se vislumbra para o Ilhéu da Cal. Depois, aprecie o mar em tons que não se encontram em nenhum outro fundo e lance-se às sobremesas que lhe piscam o olho.

Se puder, volte pela praia e aproveite o passeio para pôr os pés no areal dourado…

Um passeio… longe das multidões

By Aqui Perto 376 Comments
É verdade que a levada da Serra do Faial, nas várias oportunidades “andáveis” que proporciona é provavelmente a mais visitada da Madeira. É verdade que os vários percursos em torno do Rabaçal proporcionam a
maior possibilidade de passear integrado na natureza e, muito particularmente, na laurissilva. Também é verdade que quer um quer o outro padecem do facto de serem “demasiado”, quer conhecidos, quer visitados. O que temos hoje é uma alternativa menos “batida”, mas certamente não menos interessante.

Na vertente norte da Madeira, lá em cima na montanha, olhando o mar, também há levadas, e se algumas são verdadeiramente para especialistas, também as há para mortais mais limitados, no seu conhecimento, na sua técnica e nas suas capacidades físicas. A proposta de hoje passa por ir até à Santa (Porto Moniz), para um passeio ao longo da levada da Ribeira da Janela. Trata-se de uma levada moderna, desenhada e construída para captar águas para a central hidroeléctrica da Ribeira da Janela. Aliás, o começo do percurso tem lugar junto à câmara de carga de onde sai o pipeline que alimenta as turbinas da central.

Mas o que interessa mesmo é o passeio, Certo? As vistas, ao longo de todo o percurso são magníficas. Tanto, que recomendamos que mantenha os olhos por onde anda… Quer ver a paisagem? Pois pare um pouco, vale a pena.

No início terá vistas desafogadas sobre todo o vale da Ribeira da Janela. Preste atenção ao ilhéu, na foz da ribeira, e à povoação, no outro lado do vale. Muito depressa a floresta evoluirá de uma floresta mista para uma floresta mais endémica, com muitas espécies da laurissilva. No início, o trilho será relativamente largo, e um pouco depois de começar até se alarga, mas depois passa a ser entre o estreito e o muito estreito, normalmente protegido por arames.

A infraestrutura de suporte, não só à levada propriamente dita, como as actividades que se desenrolaram em sua volta é interessante. Notem os mecanismos destinados a minimizar a quantidade de material flutuante transportado na levada, logo antes da câmara de carga e umas centenas de metros mais longe, e depois, já claramente no percurso, os motores, que davam “força” a pequenos teleféricos de apoio a explorações agrícolas.

Excepto a levada, a paisagem vai avançando por paisagens cada vez menos humanizadas. Vai atravessar um pequeno túnel, e depois outro um pouco mais longo. E é por aqui que – recomendamos – deve acabar o seu passeio. Resta-lhe regressar à câmara de carga, e ao seu carro, ou ao autocarro.

Trata-se de um passeio sem grandes dificuldades, mas que pode ser impróprio para quem sofra (muito) com vertigens. Exige também alguma atenção, nomeadamente nas partes mais estreitas.

Já sabe o que fazer quinta-feira?

By Aqui Perto One Comment
Já planeou o seu fim de semana?

Se fosse a si não pensava mais no assunto e, se puder, dê um pulo ao Porto Santo.

Já nem sei quantos motivos lhe dar, porque a praia poderia ser suficiente para visitar aquela pérola, mas as marchas, que fazem com que cada vez mais madeirenses se desloquem à ilha dourada nesta altura, podem ajudar na sua decisão. O Porto Santo para. Oficialmente, arranca o verão na estância balnear cada vez mais procurada pelos portugueses e não só. E se conseguir, vá mesmo na quarta-feira, assista ao espetáculo ímpar que é o desfile das Marchas Populares infantis. Imagine, marchantes de palmo e meio pelas ruas da cidade, com um profissionalismo de gente grande.

Há muitos anos que as marchas são motivo suficiente para levar à ilha centenas de pessoas. No dia 23 de junho pode ver, então, os representantes das diversas localidades do Porto Santo a desfilarem pelas mesmas ruas dos mais pequenos e ainda rever em palco as suas atuações, tudo isto a partir das 21h30.

A particularidade das últimas edições tem sido a presença assídua do presidente da autarquia e da esposa e filhos na abertura do desfile, fazendo com que o principal representante do concelho não deixe de viver como todos os seus conterrâneos o aniversário do “seu” município.

Às 23h50 sobe ao palco Quim Barreiros, que promete animar os presentes.
No dia do concelho, na sexta-feira, sobem ao palco Vânia Fernandes e Luis Sousa, mas as festividades começam logo de manhã com a sessão solene e a procissão que acontece depois da missa e que percorre as principais ruas da cidade.
Aproveite a praia durante o dia e depois renda-se aos encantos da ilha que promete um Verão em cheio. O Porto Santo, que se diz ser o segredo mais bem guardado, tem recantos a precisar de ser descobertos e certamente vai aproveitar para os conhecer ou voltar a ver de perto. Acreditamos que já sabe o que fazer e como aproveitar melhor o seu tempo.
Furacão a caminho
No sábado, depois de relaxar na praia durante o dia e de poder ir ao restaurante “Ponta da Calheta” deliciar-se com a nova carta, de que aqui vamos dar conta esta semana, volte à cidade para assistir a uma série de atuações, encabeçadas pela brasileira Adriana Lua, que muitos consideram um novo “furacão” da Bahia. Comparada várias vezes com Daniela Mercury, a cantora, que tem três álbuns editados, tem dado que falar em Portugal nos últimos meses.
Além de tudo isto, a cidade e a ilha oferecem um leque variado de animação por todos os lados, marcando desta forma o início do Verão que você não vai querer perder.

Na pele do Aladino num passeio de teleférico

By Inesquecível One Comment

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Quis perder-me por entre o emaranhado de casas que, debaixo dos meus pés, se multiplica encosta acima, em direção ao Monte.

Há anos que aquelas coisas parecidas a cubos de gelo passam sobre a minha cabeça e me desafiam a entrar, a conhecer, a explorar. Se tiver oportunidade faça o mesmo que eu e deixe-se ser Aladino no tapete voador por 32 minutos. É mais ou menos um quarto de hora para cada lado, mas desengane-se se acha que aqui, como na expressão popular, “para baixo todos os santos ajudam”.
É rigorosamente o mesmo tempo. Ainda bem, porque pode subir virado para a montanha e descer virado para mar, sem perder pitada do filme. O teleférico é já uma das jóias da coroa do turismo do Funchal. Durante todo o dia, as cabines deslizam nos cabos quase em linha com uma das ribeiras da cidade e é uma boa proposta para um passeio num destes dias de Verão.Estava cheio. Por momentos pensei que a devoção a Nossa Senhora do Monte tinha já trazido o arraial, dois meses mais cedo, mas percebi depressa que era só mesmo para “chegar lá acima”. Sem motivos religiosos. A entrada faz-se quase em câmara lenta, mas se demorar não há problema, a estação é tão bonita nas suas vidraças que permitem a visibilidade a 360 graus, que até vamos apreciando o mar ali ao lado.

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Entro. Tenho por companhia um jovem casal que veio do Porto Santo, onde procurou praia e segue para Lisboa na mesma noite. Não quer perder o teleférico, já andaram noutros, mas este é especial porque, explica-me o rapaz, a maneira como a cidade está disposta não encontra em mais nenhum lugar. Às vezes, explica-me, há cidades e lugares que fazem lembrar outros e o Funchal não é parecido com nada que eu tenha visto até hoje.

Ainda bem, penso eu, Pedem-me uma foto, fazem-me perguntas. Ele quer saber onde são os estádios, mostro-os de um e de outro lado da cabine e ela delicia-se com o gado que lancha num terreno ali perto. Já deixámos a malha urbana, passámos pela Ribeira de João Gomes e vejo a adrenalina dela por detrás dos óculos.

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Parece afastar-se da janela, como se isso resolvesse o facto de estarmos no ponto mais alto do percurso, mas a beleza da cidade que se estende como um lençol a meia tarde, depressa a distrai. Informo-a que nunca houve registo de acidentes, da segurança da viagem e da beleza que pode desfrutar, sem ter de se preocupar com estacionamentos. Quando chegar lá acima, à estação, só tem de pôr o pé em terra firme e ir em direção à Igreja. Não para agradecer ou pedir alguma coisa, mas para apreciar uma das mais bonitas construções da ilha, a tal Igreja que tem no seu altar-mor a imagem venerada desde o início do povoamento da ilha, mas que tem também o túmulo do Imperador austríaco, Carlos de Habsburgo, que se exilou na Madeira há quase cem anos.

Foram vê-lo. Eu optei por visitar os jardins do Monte Palace, jardim tropical que envolve os três edifícios que albergam a coleção Berardo e voltei à cidade. Há mesmo um combinado, bastante atrativo, entre o Teleférico e o Museu, podendo ser adquirido na estação inicial.

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Voltei à estação, mesmo ali ao lado. Aproveitei para tomar um café na esplanada do edifício que oferece uma vista ímpar, não fosse o doce embalo da cabine me adormecer e eu perder a paisagem que faltava registar. Desci em direção à cidade. Entre mudos e calados, éramos quatro. Um casal que sussurrou uma ou duas frases como se quisesse manter em segredo o que se diz numa cabine fechada e climatizada, porque o ar fresco e o isolamento dos vidros impede que se a temperatura se torne desagradável e ao meu lado uma jovem agarrada ao tablet, como se o fosse perder.

Apreciei uma vez mais a montanha e as casas dispersas a darem lugar a uma malha mais densa que só parou na estação dos jardins do Almirante Reis. Lá ao fundo, no mar, uma regata de pequenos veleiros, aqui mais perto, mesmo por baixo do chão da cabine, os terraços e telhados, às centenas, que bordam a cidade.

Cada vez mais perto, parece que a tela do filme aumenta, quando vejo as casas da Zona Velha a quererem entrar no teleférico. Saio dali e atravesso o jardim, enquanto a sombra das outras cabines passa sobre a minha cabeça. Para uma tarde de sábado, o programa fresco e sem preocupações é uma tentação a repetir, um dia destes. Em qualquer dos sete dias da semana.

A cal que me encheu a alma

By Inesquecível 1.243 Comments

Fui fazer a Rota da Cal. Descobri que a NASA esteve metida ao barulho, sete milhões de anos depois. E dei comigo embalada num património cultural, histórico e económico de me deixar de queixo caído.

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Cheguei cem anos atrasada. Mas deu para perceber tudo, pela prosa de Joel Freitas, que um dia pediu o forno à tia e o transformou num percurso pedonal pela nossa história. Não perca a oportunidade de lá ir.

Está aqui, bem perto, onde o sol nasce ao contrário e onde o vale escavado de São Vicente nos mostra que a Laurissilva é vizinha porta com porta da pedreira usada durante o século XX para extrair a cal que alimentava famílias inteiras naquela freguesia. A começar pela do avô de Joel, que deu início à exploração de cal naquele sítio e que nunca imaginou que, um século depois, o neto a ia transformar em atração turística.

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A construção do forno da Cal do Barrinho remonta a 1902, apesar de já existirem referências anteriores. A história derrama-se pelas paredes de pedra aparelhada, alguma nova e outra original, que se estende à nossa frente e que guarda uma fonte incalculável de sabedoria, em forma de pesos, de medidas, de cestos e cirandas que descansam em prateleiras e recantos.

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Eu até podia contar-lhe que a Rota da Cal está desenhada para ser visitada em meia hora, começando pelas pedreiras e terminando no Núcleo Museológico, até podia aconselhá-lo a perder-se no verde da montanha e no branco da pedra calcária, mas deixaria de ser o seu passeio. Se quiser, pode mesmo adquirir o seu bilhete aqui.

Deixe-se chegar aos Lameiros, respire a Laurissilva, entre na estrada de terra batida e erva verdinha que o transporta imediatamente para o campo, se ainda não tiver mergulhado o seu espírito no ambiente e desfrute.

Primeiro, desfrute da paisagem. Vire-se para um lado e vislumbre a montanha quase a 90 graus sobre a sua cabeça e, para o outro, aprecie o sítio das Ginjas, saído de um postal, sarapintado de casas multicolores. Suba às pedreiras e depois desça para o espaço que alberga fósseis com sete milhões de anos. Dito e confirmado pela insuspeita NASA. Com uma particularidade. Os fósseis são marinhos. É verdade, a meio da serra, onde nunca se imaginou que houvesse conchas, mas vi-as. E fotografei-as. E comparei-as com uma moeda, para aferir o tamanho. Ia eu à procura de cal e dei com isto. Mas depressa me lembro que a rocha é calcária.

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Entro no edifício do Núcleo Museológico de novo. Nos minutos anteriores andei à descoberta de tudo, como se não fosse voltar ali, cheia de vontade de explorar o passado, há qualquer coisa de Indiana Jones no ar, há todo o tipo de ferramentas, utensílios e há um forno, o tal forno onde se cozia quase toda a cal usada na vida da costa norte.

Depois sentei-me. Vi o vídeo, voltou a cair-me o queixo. A história arrepia-me. Deixa-me sem palavras e até sinto nos ombros a dor daqueles homens, mas sobretudo daquelas mulheres, que carregavam os alqueires de cal serra acima, horas a fio.

Voltarei. A rota da cal não se saboreia de uma vez. Como qualquer pedra de calçada feita com calcário dali extraído, há que passar muitas vezes. Se quiser, passe já este sábado. Porque domingo e segunda são dias de descanso para quem nos guia e nos mostra a história, perdida e reencontrada no meio de São Vicente.

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Trijato é a nova plataforma de viagens

By Aqui Perto 458 Comments

 

Um ano e 850 produtos depois, a lojamadeirense.com atingiu um milhão de visitantes,
espalhados por 139 países. Foi a 16 de Junho de 2015 que “abriu as portas” na internet e hoje, naquele endereço eletrónico, já se vende para todos os continentes, através de 70 fornecedores madeirenses.

A comemorar um ano de existência, a loja quer entrar noutra área de negócio, deixando de vender apenas produtos físicos e associando ao seu leque de produtos um serviço, que ficará alojado em www.trijato.com, sendo uma plataforma direcionada para o turismo.

O site pretende agregar todas as atividades (hotéis, alojamento local, restaurantes, tuk-tuks, táxis, bares, discotecas, atividades náuticas e de animação, rent-a-car, etc) existentes em várias partes do mundo.

Segundo o promotor, José Manuel Sebastião, a ideia é encontrar-se ali «tudo aquilo que tenha relação direta ou indireta com o turismo e que possua uma avaliação contínua e diária por parte de todos os clientes, que usufruam dos serviços de todos».

Ou seja, após contratação direta de um serviço de taxi, o cliente pode, através do telefone ou do mail do mesmo, avaliar o serviço do taxista a pedido deste. A trijato.com terá as avaliações feitas pelos clientes dos diversos serviços disponíveis no site, através do seu smartphone, tablet ou computador.

A ideia do empresário, que lançou há um ano a venda online dos produtos madeirenses para todo o mundo, é juntar aquilo que os diversos sites que tratam separadamente de cada sector, para que os clientes possam ver todas as ofertas no mesmo local.

No final de cada ano é objectivo premiar os melhores em cada região, em cada pais.

De futuro, será possível que um cliente, em qualquer parte do mundo, reserve uma semana de férias com todas as atividades através da plataforma, Madeira ou em qualquer parte do mundo.

A trijato.com não tem custos para quem queira promover um só negócio, custando 20 euros anuais para quem quem tiver entre dois e cinco negócios. Para quem quiser promover seis ou mais áreas de atividade, o custo anual para estar nesta plataforma é de para quem queira introduzir negócios ilimitadamente de 100€/ano.

Andando pela Camacha

By Aqui Perto 4.591 Comments

 

Quer então um passeio – uma levada – fácil, segura, interessante qb? Pronto, temos uma para si. Corre o risco de a fazer com algumas centenas de visitantes da Madeira, principalmente se a fizer de manhã, mas aprendemos todos uns com os outros, pelo que é uma situação de ganho para todos.

Apanhar o autocarro para o Vale Paraiso, e subir em direcção ao Poiso – são só umas poucas centenas de metros pela estrada. Quando encontrar a levada (há uma placa que aponta para a Levada da Serra do Faial), siga para este, e estará não só na levada, mas também na direcção certa.

Foto: Adrian Smith

Relativamente larga, e com bastante sombra – pelo menos nesta primeira parte – a levada da Serra do Faial vai correndo por entre árvores, nesta zona, principalmente eucaliptos e acácias, assim como os hortênsias e agapantos. Vá prestando atenção ao caminho, vai sempre haver pedras, e canos, e raízes, que teimam em fazer-se notar, e que se traduzem em tropeções, especialmente para os incautos.

Convém aliás, ir cumprindo as normas de segurança das levadas: dizer para onde vai, a que horas espera estar de volta, não ir só, levar calçado adequado (não que nesta levada, pelo menos nesta parte isso seja um problema), e ir olhando sempre para onde põe os pés. Quer ver a paisagem, ou uma plantinha? Pare, e recomece a andar apenas quando estiver pronto a ver por onde anda…

À direita, à distância, vai ver a Quinta de São João. Mas continue. Não tem que enganar… basta ir seguindo o canal. Depois de cerca de 40/45 minutos, vai chegar a uma zona mais habitada. Desça a escada, e vai estar na estrada, já muito perto da Achadinha. Logo antes de chegar ao largo, note à esquerda o antigo lavadouro de roupa. Logo a seguir, o café. Vale a pena parar, e beber um café, ou uma das dezenas de tipos de cerveja que por lá vendem.

Foto: Adrian Smith

Já chega? Aqui há autocarros… Mas se lhe parece pouco, e quer continuar mais um pouco, há sempre soluções. Logo depois do café vai encontrar uma zona mais urbanizada – note os esforços do dono da última casa na rua em reutilizar as bicicletas, e as botas -, seguida de campos cultivados. Um pouco mais à frente, depois de uma curva, volta a encontrar uma rua, com garagens. O edifício da esquina já foi uma padaria, com o equipamento a ser movido por água. Verá melhor a entrada de água se olhar para trás do outro lado da rua…

Continue a seguir a levada. Mais uma curva. Aqui há menos sombra, mas há mais campos cultivados, e mais casas. Note a “pedra” alternativa utilizada em alguns deles: uma forma fantástica de usar pneus velhos não é? Um pouco mais à frente, mais um pequeno café/mercearia. Está no Rochão. Também aqui há autocarros de volta ao Funchal.

Divirta-se, e espero que goste tanto do passeio como os nossos visitantes!

Note que os horários podem sofrer alterações. Confirme-os à saída do teleférico. Autocarros Funchal-Vale Paraiso – pelo menos uma vez por hora, com saída junto ao teleférico; Autocarros Achadinha – Funchal – 11h00, 12h15,13h45, 16h30. Autocarros Rochão – Funchal – 14h15, 17h45 e 18h45, bem como, na estrada principal (desça cerca de 200 metros) 12h00, 16h15 e18h00 (horário da saída do Santo da Serra – conte com pelo menos mais 15 mns).

Se desejar fazer este percurso acompanhado por um guia, pode reservar aqui.

 

Chef Octávio – O empresário que cozinha a Madeira

By Gente que Marca 6.036 Comments

chef%2B1.jpgQuando a professora do 9º ano na Escola do Estreito de Câmara de Lobos perguntou que queria ser, o jovem Octávio Freitas respondeu, sem pestanejar, que queria ser cozinheiro.

Entre as gargalhadas dos futuros engenheiros e médicos, advogados e afins e o espanto da diretora de turma, o jovem aluno, filho da melhor cozinheira do mundo, como diz, manteve o seu sonho e começou ali temperar os anos seguintes, que o trariam ao glorioso ano de 2016, quando a vida lhe corre bem, quando os seus pratos já são uma marca registada para saborear com o seu vinho, o tal que anuncia apenas as iniciais Of no rótulo sóbrio e distinto.

Hoje, quase vinte anos depois daquele Outubro de 1997, quando iniciou a profissão, ainda se recorda daquele dia por dois motivos. Pela capacidade que teve de focar o seu objetivo e por não ter esquecido as caras de escárnio dentro da sala de aula.
A vida sorriu-lhe através de uma família dita normal, como brinca, um casal médio, com filhos, com o pai a continuar ainda hoje a ser taxista e a mãe a fazer os melhores cozinhados do mundo, frisa.

O Chef, porque hoje é assim que é conhecido, tem nome e marca registada em todos os pontos da ilha e reconhecem-lhe a capacidade de deixar o seu tempero na juventude atual. Jovens pouco mais velhos do que ele, que quando tinha doze anos, decidiu que esta seria a sua forma de vida. Uma estranha forma de vida, diriam alguns, algures na segunda metade dos anos 90. Talvez porque o pai sempre teve hortas caseiras, cultivava o que comiam em casa, criava animais para o sustento da família e gostava da tal ligação a terra que o filho tanto reconhece, agora.
«É da terra que nasce o prato», sentencia, gesticulando como se tivesse entre os dedos qualquer legume colhido lá na horta do pai. É preciso percebermos a natureza das coisas, ensina.

chef%2B2.jpgAinda com idade para andar a jogar à bola na rua transformada em campo de futebol, o rapaz que cresceu a conhecer todo o tipo de colegas começou a perguntar onde poderia ter aulas de cozinha. «Era um bom aluno, não fui para a cozinha por escape», não havia quem quisesse descascar batatas e fazer espetadas para turistas.

Como não foi um mau estudante, podia ter sido qualquer outra coisa, mas decidiu que queria criar. Na altura, não foi difícil, porque as vagas para cursos de cozinha na Escola de Hotelaria e Turismo da Madeira eram mais do que muitas. Agora, há excedente de alunos a querer experimentar texturas, sabores e condimentos. É preciso filtrar os candidatos.

Teve sempre apoio em casa. Ninguém o dissuadiu ou tentou demover, mesmo que tivesse quinze anos quando entregou os papéis para a candidatura e que em Outubro de 1997 tivesse já os 16 anos completos na primeira aula.

«Parece que encarnei outra pessoa, tinha o mesmo foco que tenho hoje e sabia, como sei agora, exatamente o que queria».

Começou a trabalhar muito cedo. No primeiro mês de aulas deu tanto nas vistas que foi convidado para estagiar num restaurante. Assim, com 16 anos, estudava das 8 às seis da tarde e entrava no “D. Amélia” das 19 à uma da madrugada seguinte.

Fez isto durante três anos, nos dias de semana, mas os sábados e domingos eram passados enfiado no restaurante. Foi por capacidade e não por qualquer golpe de sorte que fez, por isso, a travessia meteórica diretamente para cozinheiro de 1ª categoria, saltando as de 3ª e 2ª.
O Chef Amândio, um dos grandes mestres da nova vaga da cozinha madeirense não o deixou fugir da sua alçada, quando Octávio acabou o curso. Aos 19 anos, era subchefe de cozinha e braço direito do conceituado chef, que se formara na Suíça. Houve quem apostasse que não demorava uma semana. O mais velho era um homem exigente, o que era muitas vezes confundido com mau feitio e juntou-se, atrevo-me a dizer, a fome com a vontade de comer. Octávio concorda. Sabe que o bom feitio não é propriamente a sua imagem de marca, mas prefere chamar-lhe, agora, exigência, quase perfecionismo.

Alguns anos depois, depois de passadas várias cozinhas de hotéis e restaurantes, não esquece que aos 21 anos abriu a Quinta do Jardim da Serra como chef.

chef3-1Talvez por ter dado o seu primeiro curso de cozinha aos 18 anos, ainda o diploma da Escola Hoteleira cheirava a tinta, ficou com vontade de partilhar. Hoje, tem quase 200 alunos em dezena e meia de escolas, reconhecendo que o seu trabalho foi responsável pela paixão desenvolvida por muitos miúdos. Por um programa de televisão, de rádio, de uma sensibilização feita numa escola… por qualquer razão. Mas ela existe e pega-se, como o aroma das suas receitas.

A formação que dá na Of – Escola de formação, aparece por querer devolver o que aprendeu à terra que o viu nascer. Mas quanto aos 40 anos, quando lhe pergunto onde vai estar, Octávio não mergulha em futurologia. Só sabe que não quer defraudar as expetativas dos que confiaram em si. Mas também sabe que se quer superar, todos os dias.

Não sabe se a Madeira vai ficar pequena para si, mas sabe que das viagens que fez, a título pessoal ou profissional, houve coisas que o fascinaram e outras que nem por isso, atrevendo-se mesmo a dizer que «somos um exemplo de hotelaria para muitos países».

Recentemente, esteve pelo segundo ano consecutivo na Polónia, a representar Portugal e gosta de viajar, sendo convidado diversas vezes por ano para participar em eventos no continente, assim como se estivesse a tocar piano a quatro mãos, mas na versão gastronómica.

Pergunto-lhe qual foi a cereja no topo do bolo nas suas criações. Pensa um pouco e atira com um olhar distante, como se no horizonte estivesse a resposta. «Já criei pratos que pensei que iam ser um sucesso e não foram» e outros, «feitos sem grandes improvisos ou expetativas, acabam por ter uma história». Houve alguns que criou e desapareceram das suas ementas e outros que, temperados com o seu estado de espírito em dada altura da vida, o marcaram. Houve um, particularmente, que faz com que até hoje as pessoas o procurem: «um bacalhau fumado, que apresentou numa “Essência do Vinho” e que o levou inclusivamente ao Porto». A especialidade? É fumado em farelo de barricas de Vinho Madeira.

Hoje, já não é opção trabalhar com produtos regionais. É uma exigência. Uma cobrança que faz a si próprio, porque se não o fizer, as pessoas fazem. Sem cerimónias. Sabe que teria sido mais fácil brilhar com produtos como lagosta e caviar, porque é fácil brilhar com pratos caros, mas quando a magia nasce da cavala, do atum ou das ovas de espada, é preciso arte. E passados quase vinte anos, continua a ser uma certeza das suas cartas.

A paternidade levou-o a ser mais condescendente e hoje, reconhece, o feitio pouco flexível está mais mole. Dá segundas, terceiras e mesmo quartas oportunidades, mas sabe que houve tempos em que terminava na primeira.

Quando a conversa vai caminhando para a sobremesa, ainda avanço com a colheita de vinho. É uma paixão antiga a tal mestria de fazer o néctar. «Não gostava de beber, mas adorava entender o percurso, a fermentação das uvas, as harmonias, porque é que se acompanha com vinho branco um prato ou outro». Aos 18 anos, fez uma formação em enologia e a partir dali tomou-lhe o gosto. «Tenho prazer nisso». Mas recusa, quando provoco, que o Vinho Madeira seja para molhos, como muitos colegas de profissão por esse mundo fora.

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Um dia, quis fazer um vinho.

Porque se a sua vida é criar com o que a terra dá, mais do que nunca, era hora de o fazer aliado às formações que teve. Em conversa com um enólogo, cozinhou uma ida ao Alentejo para criar o seu “blend”, a mistura das várias castas que escolheu e criou a sua própria marca, a Of, que se transformou em 15 mil garrafas de branco e outras tantas de tinto. Todo ele vendido em 2012, mas dali saiu também um lote especial, de 1500 garrafas de reserva e depois chegou ao auge de criar um Vinho do Porto com o seu nome. «O único Vinho do Porto feito por um madeirense». Ainda quer fazer o mesmo com castas nossas.

Mas tudo a seu tempo. Como tem sido tudo na sua vida. Para saborear, acompanhada de um bom prato.