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Madeira In and Out

Grutas? Ou não?

By Aqui Perto 4.185 Comments

 

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Uma visita às grutas de São Vicente é sempre uma maneira diferente de passar o dia. Se não tem transporte, não se preocupe: há sempre soluções, e para este caso temos uma mesmo à medida.

Duas ou três vezes por semana sai do Funchal um autocarro amarelo (CarrisTur) que atravessa grande parte da zona oeste da ilha para chegar a São Vicente. Convém reservá-lo com antecedência, e cumprir os horários indicados nos bilhetes. A primeira paragem tem lugar junto às grutas.

Mas o que são estas grutas? O que há lá de interessante? Para começar, vamos desfazer alguns mal entendidos: elas chamam-se grutas, mas não são bem isso. Na realidade, são algo ainda mais interessante: são túneis lávicos, decorrentes das últimas erupções que se deram na Madeira, e que nos permitem aprender muito sobre as origens da ilha.À chegada, somos convidados a entrar num dos tuneis, e avançamos pela Terra dentro.

Um guia especializado vai-nos chamando a atenção para isto e para aquilo, e vamos aprendendo a cada passo, e utilizando vários sentidos, vamos “absorvendo” informação e sensações.

 

No extremo (cerca de 350/400 metros) há uma ligação entre os dois tuneis visitáveis, pelo que a saída é feita pelo outro lado. No final, o guia acompanha-nos ao início de uma mostra sobre o vulcanismo – o da Madeira e o do resto do mundo. Depois, um filme sobre a formação geológica da Madeira, seguido de outro, mais genérico, sobre o fenómeno vulcânico propriamente dito – mas este último é uma experiência em três dimensões.

Depois deste “banho” de ciência, segue-se uma atividade mais descansada, que nos permite apreciar as paisagens, construídas e naturais, da ilha. A próxima paragem do autocarro amarelo da CarrisTur é o centro de São Vicente, com a igreja e o pequeno parque de flora endémica, antes de seguir até ao Seixal, ao miradouro do Véu da Noiva.

Oportunidade para usufruir de uma magnífica vista sobre o norte da ilha, e de ver “ao vivo”, as consequências da ação da natureza (mar, chuva, sol e vento) sobre a paisagem.

Falta apenas regressar ao Funchal. E chegar na certeza que se aprendeu muito, e se viu muito. E que vamos chegar a tempo de almoçar num dos muitos restaurantes que nos dão a conhecer as especialidades gastronómicas da ilha. E começar a planear a próxima saída…

Traga os chinelos… nós temos o resto!

By Aqui Perto 435 Comments

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Parece uma pintura clássica. Daquelas tiradas de um postal ilustrado parado no tempo. Daquelas que não se toca, porque se tem medo de estragar. É esta a imagem que todos guardamos da paisagem que nos enche os olhos e preenche a alma. Foi assim que a deixei. É assim que a encontro, de cada vez que regresso.

Sento-me no alto do Miradouro da Portela, a terra batida por baixo dos chinelos, a brisa que desce as pequenas montanhas e a visão que me prende a respiração, como se cada vez que eu pestanejasse, os olhos tirassem a fotografia perfeita.

A praia continua na sua languidez a espreguiçar-se ao longo de nove quilómetros dourados. Aqui e ali, parece atrever-se a desafiar as águas turquesa e uma língua de areia entra no Atlântico que, por aqui, tem temperaturas de 23 graus.

Há vinte anos que se reescreve a história. Não voltou a ler-se da mesma maneira e todas as estatísticas aumentaram, a forma de viver mudou, a própria marca “Porto Santo” impôs-se e hoje tem personalidade própria, assinatura com chancela e tudo e um mar de oportunidades que vão muito além da praia e da água quente.

Este é o mês do concelho, o mês das duas décadas de ligações marítimas e o mês de olhar o Porto Santo de outra forma. Com marchas, bolo do caco, terapias alternativas, golfe e muita, muita praia.

Porque o Porto Santo espera por si, o melhor é saber o que esperar dele. E para quem não decidiu, ainda, o que fazer quando o relógio descansar fora do braço e o despertador não tocar, a ilha do mar azul e das areias medicinais, das melancias mais doces de Portugal e dos cachos de uva mais sumarentos das ilhas portuguesas, é a opção certa.

Venha se precisar de descansar, de passear e de ter o bronze de maresia na pele, ande por onde andar. Toda a ilha é praia, mar e sol a perder de vista. De quando em vez, adormeça ao som das ondas. À noite, se encontrar metade da população virada para uns tapa-sóis de madeira, não resista. Siga-os, espere a sua vez e delicie-se com um dos maiores segredos da ilha. Uns gelados feitos da mesma forma há 50 anos, com a mesma fórmula que o homem que os serve há mais de meio século concebeu num laboratório de trazer por casa.

Não há iguaria igual em parte alguma do mundo. Nem há explicações para o sucesso de misturas como pêssego e ananás, rum e limão, banana e laranja. Mas a espera, às vezes de uma hora, vale a pena. Diz quem prova que não se esquece. Há quem saboreie quatro ou cinco daqueles gelados cremosos por dia. Por ali, conhecem-se como lambecas.


Manda o ritual que os turistas se sentem, rua abaixo, a apreciar o doce enquanto a outra metade da ilha ainda espera ser atendida. Parece brincadeira, mas chegam a vender-se, por dia, no Porto Santo, mais de cinco mil unidades. Mesmo que feitas com máquinas antigas, ladeadas pela tecnologia que obriga a registos em ecrãs tácteis, dando um ar futurista ao pequeno quiosque de menos de quatro metros quadrados.

Depois das lambecas, quando os dedos estiverem pegajosos o suficiente, siga a multidão e invada o cais velho. Outrora a única porta de entrada por mar na ilha, o local onde todos se cruzam é um monumento à pacatez do Porto Santo e à calma que não vai encontrar em mais nenhum local neste verão. Traga os chinelos, o fato de banho e muita vontade de viver a ilha. O resto, descubra por si.

O Homem do Leme

By Gente que Marca 2.063 Comments

«Hoje, vejo as crianças que conheci com os filhos ao colo, já casadas».
De facto, 20 anos aos comandos do navio e outros dois na linha, fazem de João Vicente da Cruz Bela uma das pessoas que melhor conhece a ilha dourada e as pessoas que por lá passam.

Não há quem não conheça o comandante. Não há quem desconheça a sua simpatia e verticalidade, a sua determinação e profissionalismo, nada que não tivesse sido imagem de marca do homem de calça preta, camisa branca e galões dourados que conhece o navio que hoje governa da mesma forma que conheceu o anterior, trazido da Grécia.

IMG_9099-3O atual Lobo Marinho é como um filho, porque o viu nascer, pouco a pouco, na Rússia, na Alemanha, no norte de Portugal. Ganhar forma, crescer e juntar as partes que hoje alisam as águas da travessa em viagens quase diárias, em percursos que poderia fazer de olhos fechados, mas não faz. No mar, nunca se facilita. É sempre como se fosse o primeiro dia, ensinou ao longo destes anos.

O comandante João Bela é neste momento uma autoridade para falar na matéria de vinte anos de linha marítima ininterrupta. Porque a viveu e a aprendeu como ninguém.
Quanto à ilha onde passa o dia, «mudou quase tudo, desde logo o nível de vida, que se alterou
significativamente».

Criou-se uma riqueza que até então o Porto Santo não tinha. Aumentou o movimento de turistas, mas com a facilidade de transporte, as pessoas da Madeira começaram a perceber que tinham fortes vantagens em ter uma casa no Porto Santo. Hoje, pode dizer-se que este homem viu a ilha crescer, as construções que se multiplicaram quase três vezes em relação a 1996, a própria iluminação da ilha hoje é seguramente seis vezes superior à que existia. Diz quem conhece. Quem todos os dias tem o privilégio de ver a costa sul a partir do mar e pode assinar as palavras.

As poucas pessoas da Madeira que tinham casa no Porto Santo antes de 1996, decoravam-na com aquilo que já não queriam na residência habitual. Hoje, compara o comandante, «toda essa norma foi alterada, hoje há casas no Porto Santo iguais às do Funchal e pessoas estrangeiras, como angolanos e alemães, a fazerem casas na ilha dourada.

 

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As poucas lojas que existem, apesar da crise, já têm coisas apetecíveis para comprar. Em 1994 e 1995, quando ainda viajava no catamaran Pátria e no Lady of Mann, o ferry-boat que veio à experiência para a linha, os espaços comerciais tinham pouco mais do que as prateleiras.

Os próprios táxis, eram carros velhos e alguns deles mal tratados e as pessoas tinham dificuldade em relacionar-se com os turistas, hoje há viaturas novas, bem cuidadas e até empresas de transferes e passeios turísticos bem feitos.

A introdução dos ferries no Porto Santo virou a economia local. «E há muitas famílias que viajam connosco que continuam a investir, mesmo em habitações para arrendar no Verão».

A ilha virou moda, sim. É um facto. João Bela, que por via da profissão conheceu muitos destinos turísticos e pode falar com conhecimento de causa, refere que além das figuras públicas que se sabe que ali têm casa, há outras que, não fazendo publicidade disso, mantêm o hábito de vir para o areal para as suas habitações de férias.
Ainda podemos ter esperança nos dias que vêm. O Porto Santo pode tornar-se numa pérola neste Atlântico, por continuar a ser uma zona de tranquilidade e paz. É a única praia da Europa com areia calcária e quem se preocupa com essas questões, acaba por ter ali a sua escolha natural.

A ilha tem qualidades e condições para receber, fora de Julho e Agosto, turistas de várias origens, há ainda dez meses para explorar. As Canárias, por exemplo, têm contratos com operadores que trazem funcionários afetos a sindicatos, reformados e outros e essa, alerta, poderia ser uma saída para potenciar o turismo em alturas do ano em que os nórdicos, decididamente, não farão praia nos seus países.

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Em vinte anos, contudo, não viu acontecer uma coisa que poderia ser simples, mas que parece uma obra extremamente difícil. Hoje em dia até brinca com isso, mas a verdade é que, excetuando a Praia da Fontinha, toda a extensão de praia que existe ao longo de nove quilómetros não tem infraestruturas públicas de apoio. «Estou a falar de uns simples balneários com casas de banho». Porque nas zonas que não aquela paralela ao Hotel Torre Praia, só os investidores privados têm serviços desses, interditos aos turistas em geral.

Criar estruturas no areal para os locais e os visitantes se sentirem confortáveis é simples. Haja vontade.
Esse era um desejo para ver concretizado nos próximos anos. O outro, era continuar a ver a ilha sem semáforos, não a descaraterizando, mas sobretudo, queria poder ver continuar a melhorar o serviço na ilha, que não tem a tradição turística da Madeira, mas que irá certamente encontrar o seu rumo. Por outro lado, quer continuar a poder comer lambecas, os tradicionais gelados da ilha que não são imitáveis em parte nenhuma.

Ao fim de vinte anos, o comandante olha para trás e reconhece que fez muitos conhecidos. Não acredita que tenha feito inimigos. No Porto Santo, a ilha onde passa o dia, que sente quase sua, continua a gostar de saborear as tardes de brisa fresca como se fosse o primeiro dia.

Metade do país já viajou no Lobo Marinho

By As nossas ilhas 1.236 Comments

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As contas são fáceis de fazer. 

No mês em que se assinalam os 20 anos de linha marítima para o Porto Santo, a estatística mostra que 5.323.000 passageiros embarcaram nos portos do Funchal e da ilha dourada, o que significa, grosso modo, que se cada português residente no pais tivesse navegado naqueles dois navios, já metade tinha experimentado os ferries.

A aposta da empresa do Grupo Sousa, que recebeu a concessão da linha em 1995, foi claramente ganha. Não obstante a primeira experiência feita nesse ano com um navio fretado, a chegada do primeiro “Lobo Marinho” à Madeira, em Junho de 1996, veio marcar claramente a viragem na história dos transportes marítimos portugueses.
Os anos passaram, os hábitos recriaram-se e mais de seis mil viagens depois, os madeirenses e os turistas estão rendidos ao conforto e à qualidade da travessia diária de 43 milhas náuticas para cada lado que, assim de repente, nos fazem recuar vinte anos.

E quando se fala em recuar, os números levam-nos também ao primeiro ano de atividade do velhinho navio, adquirido na Grécia, que iniciou as viagens a 6 de junho de 1996 e que, um ano depois, tinha visto embarcar 156 mil passageiros. Um marco, à época, impensável e que fazia com que a estatística subisse 52 mil pessoas embarcada em relação a todo o ano de 1994.

Cinco anos depois, com um passado de curiosidades pinceladas aqui e ali na história dos transportes marítimos – e que vão aqui ficar nos próximos dias – o mítico número de 300 mil passageiros transportados num ano é alcançado. Entre 2004 e 2005, o segundo ano em que o atual navio operou, o número bateu nos 304.722 embarques.
Curiosamente, para os mais cépticos, essa seria uma fasquia inalcançável. Mas não se ficou por aqui a escada de recordes que se subiu durante os anos seguintes.

A Porto Santo Line quase encostou mesmo os números aos 361 mil, quando a 5 de junho de 2008 fechou a operação anual, no melhor ano de sempre na história do transporte interilhas e com a bandeira do recorde içada até hoje nessa fasquia.
Desse ano até 2013 a estatística não esteve sorridente para os lados da Porto Santo Line, mas a recuperação da linha tem vindo a acontecer, com um aumento anual de passageiros transportados a ser notado quando olhamos para os dados que nos apontam para um aumento de quase vinte mil passageiros anuais ao fechar este 20º ano de atividade.

Mais de 6.300 viagens depois, o navio que alisou as águas da travessa em 347 viagens em 2008 (uma média de quase uma por dia), está aí para madeirenses e visitantes.
Tem um diário de bordo recheado de curiosidades que nos mostram que, pegando no início do texto, se as passagens tivessem sido usadas apenas por madeirenses, cada um teria ido, em média, 20 vezes ao Porto Santo.


A partir dali, durante anos, foi só quebrar recordes. Sempre tendo por referência a baliza temporal junho/junho, fomos remexer nos arquivos e descobrimos a barreira dos 200 mil ultrapassada no quarto ano de navegação, no caso ainda com o navio antigo.




Lobo Marinho já deu 25 voltas ao mundo

By As nossas ilhas 6 Comments

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Ao contrário da frase célebre do poeta, estes mares são já dantes navegados.


A expressão de Luis Vaz de Camões atravessou os séculos, mas aqui não faria sentido, tendo em conta que, nesta história, os mares estão de tal forma navegados que o navio seria capaz de fazer as viagens “de olhos fechados”.


Não fosse o facto de o comandante João Bela alertar repetidamente para o facto de, no mar, nunca se facilitar, a robustez da proa a cortar as ondas da travessa, quase sempre de “cara virada para o sol”, as linhas modernas desenhadas com todo o cuidado e o carinho com que os madeirenses são tratados a bordo do “seu” navio, faz esta história de vinte anos ter sempre dados novos.

 
O primeiro navio com o nome Lobo Marinho chegou em Junho de 1996

 A começar, pelas milhas navegadas. 

Uma assustadora quantidade delas, de tal forma que é difícil olhar para os números sem deixar o queixo cair perante a comparação. Vamos por partes que a viagem é longa…

Apesar de acontecer já nos anos anteriores, a operação com ferry de caráter regular da Porto Santo Line iniciou-se em 1996, depois da experiência do ano anterior com um navio daquela tipologia, mas fretado. A partir daí, foi fácil começar a fazer contas. Já no primeiro ano de viagens entre as duas ilhas, o anterior Lobo Marinho viajou o equivalente a uma volta ao Equador, mas no total, se em vez das 86 milhas navegadas diariamente nas mesmas águas, João Bela governasse o navio sempre à volta da Terra, já o teria feito… 25 vezes.

Para quem já fez a travessia mais de seis mil vezes, a rotina da travessa não apresenta novidade. Mas há aspetos curiosos que podemos assinalar, como por exemplo, a sala de restaurante “a la carte”, que foi feita propositadamente a estibordo do navio para que, quando os passageiros estiverem a jantar, possam estar a ver a costa norte da Madeira e depois a costa sul.

O atual navio da Porto Santo Line começou as viagens em Junho de 2003

A distância entre a ponta do Ilhéu da Cal e a Ponta de São Lourenço é de exatamente 22 milhas, o que significa que praticamente metade da viagem é feita em mar aberto e a restante abrigado por terra.

As mil viagens foram alcançadas no dia 20 de Agosto de 1999, pouco mais de três anos depois do início da operação e sensivelmente de três em três anos fizeram-se as travessias até a cinco mil, tendo demorado um pouco mais a completar as 6 mil devido ao inferior número de viagens anuais do navio.

Agora imagine: a Porto Santo Line tem a bordo vários tripulantes que estão na empresa desde o arranque da operação experimental, em 1995. Nesta altura das suas vidas, se tivessem viajado à volta do equador, estariam a caminho das 26 voltas ao planeta. Alguns deles entraram ali jovens e hoje têm filhos a acabar a escolaridade obrigatória.

Os passageiros conhecem-nos desde sempre, viram chegar-lhes as primeiras rugas, os cabelos brancos em alguns casos, mas de uma coisa têm certeza: o sorriso manteve-se e contagiou quem se juntou à equipa depois, quem entra a bordo uma vez por ano ou todos os meses.

O Lobo Marinho é, nunca foi segredo, um navio feito pelos passageiros. Só é pena o Porto Santo estar mesmo ali ao lado, porque às vezes a viagem torna-se curta.