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Já ouviu falar de “glamping”? Vai querer ouvir…

By Inesquecível 3.377 Comments

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Já ouviu falar em “glamping”? Não? Logo que possa, faça esta palavra entrar no seu dicionário. E experimente fazer campismo com glamour. O conceito é recente, mas tem ganho adeptos lá para os lados do Galomar.

Imagine uma noite diferente. Sem energia eléctrica, sem tomada para ligar o carregador, sem televisão, mas com uma estupenda varanda sobre o Oceano Atlântico. Um jantar à luz de velas, com os quatro pratos da ementa a serem servidos ali mesmo, numa das zonas de solário da mais recente oferta do Galoresorts. Um lugar mágico, que mostra que a Madeira continua a ter uma oferta turística distinta. Haja imaginação!

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Fomos fazer uma dessas experiências, que tem vindo a cativar madeirenses e turistas. Depois de um dia de trabalho, nada melhor do que rumar ao Galo e fazer o check-in às 20 horas.

Um telemóvel, as chaves de acesso à civilização, se algum hóspede quiser sair dali e um acompanhamento fabuloso até ao local onde o entardecer espera, com mesa posta a preceito e uma noite com a lua, o mar e até as cagarras que ali vivem.

A ementa consiste em quatro pratos, começando com lagosta e terminando com petit-gateau de chocolate e gelado de morango.

Pelo meio, salmão com camarão e vitela, um bom vinho a acompanhar e aquela sensação de paz impagável. Ali a menos de dez metros o mar bate na rocha e algumas aves noturnas começam a regressar aos ninhos. Entre elas, um casal de cagarras que por ali se decide entre aterrar ou não, enquanto o jantar vai sendo trazido do edifício principal por dois colaboradores incansáveis. Antes de terminarem, deixam a garrafa de espumante e o cesto de fruta, com desejos de uma boa noite…

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A noite, sem eletricidade, apenas com velas falsas dentro da cabana e luzes de led alimentadas a energia solar, é quase terapêutica. Não há vivalma num raio de dezenas de metros e o hóspede mais próximo do Galo fica muitos metros acima do nível do mar. A sensação de que se está a acampar, mas ao mesmo tempo a dormir numa cama king size sobre um solário é estranha, mas sedutora. Todos devíamos passar por isso pelo menos uma vez na vida.

A cabana, feita com madeira e lembrando a todo o momento as preocupações ambientais que são regra de ouro do grupo hoteleiro da família Bachmeier, tem uma casa de banho que mistura a última geração de camping, de limpeza automática, uma vez que não há qualquer tipo de rede de saneamento básico, com um daqueles lavatórios antigos da casa dos nossos avós, com água fresca dentro do jarro pintado à mão.

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Não falta a lanterna para uma emergência, mas a noite de lua cheia ilumina o suficiente o ambiente para não se andar sem saber por onde. Com o embalar das ondas, também, é fácil adormecer.

Às 8h30 a mesa do jantar deu lugar à do pequeno-almoço. Ali, de frente para as ondas do mar, o pão fresco, os croissants, as compotas, o café, o chá e tudo o que temos direito dá-nos os bons dias. De novo, dois colaboradores que nos recebem com a simpatia conhecida a quem trabalha naquela casa e a primeira refeição do dia tomada de novo com aquele cenário magnífico.

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O “glamping” só funciona no Verão. Nem faria sentido estar por ali noutra estação do ano, mas faz sentido experimentar uma noite diferente.

Prendas de aniversário, de celebrações especiais, como casamentos, a vontade de viver aventuras num ambiente de qualidade, um presente de um grupo de amigos ou simplesmente o romantismo podem ser motivos suficientes para uma noite, com ou sem jantar, no Galomar.

Já podemos dizer que passámos por isso e gostámos. Temos mais uma história para contar. Mais uma experiência positiva feita ali mesmo ao lado, sem ter de entrar em aviões ou andar horas de carro. Experimente uma noite destas. Até final de Setembro…

O dia em que o romeno me pôs as mãos

By Inesquecível One Comment

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Sexta-feira, seis da tarde. Entro no edifício envidraçado que se estende em tons salmão por algumas dezenas de metros e recebo um roupão, uma toalha, uns chinelos e uma touca.

Mudo de roupa e, igual a tantas pessoas com quem me cruzo nas escadas, subo ao piso superior, onde um “armário” com quase dois metros me pergunta ao que vou. Tem sotaque de leste, mas o português arranhado não me deixa adivinhar de onde, até porque não distinguir nenhum idioma da Grécia para lá.

Leva-me para uma cabina onde tira o roupão e me manda fazer o mesmo. Medo…

Aponta-me a marquesa e abre o duche Vichy com que vou levar uma relaxante massagem nos vinte minutos seguintes. Aliado às mãos do homem de que nem soube o nome, nem praticamente vi a cara.

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Estive ali, deitada, de costas viradas para cima, a experimentar a tal da insustentável leveza do ser. Que era capaz de me fazer flutuar para longe, desde que não tivesse as mãos do “armário” a me puxarem os dedos, me tocarem em pontos de reflexologia das plantas dos pés e me darem pequenos beliscões nas pernas.

Apaguei. Não demorou muito. Estranhamente, deixei-me ir naquele embalo de relaxamento que o duche quente me proporcionava.

Senti ao de leve as mãos romenas a subirem as minhas costas, misturadas com a água quente e fria que me chega ao corpo.

Acho que me acordou da meditação semi-profunda em que mergulhei sem máscara, barbatanas ou garrafa.

Vesti o roupão e saí. Já não o vi, mas voltei a apanhá-lo na zona antes das piscinas. Mostrou-me o circuito da Talassoterapia onde estavam dois ou três casais, há espaço de sobra para todos e indicações precisas nas paredes da área, conselhos para relaxar, tonificar, refirmar ou apenas estar ali, numa sauna, uma hidromassagem, um passeio contra a corrente na piscina onde a água parece um rio a correr para o mar.

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Gostei da experiência. Da leveza com que saí dali para jantar e do espaço integrado na paisagem que se perde, lá longe, no Ilhéu de Fora. Do azul do mar à frente do terraço do outro lado da janela.

Um bom programa para um fim de tarde destes no Vila Baleira. Com romeno ou sem ele, o que importa é explorar a vertente do turismo de saúde e bem-estar que o Porto Santo oferece.
Fotos: Vila Baleira

Na pele do Aladino num passeio de teleférico

By Inesquecível One Comment

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Quis perder-me por entre o emaranhado de casas que, debaixo dos meus pés, se multiplica encosta acima, em direção ao Monte.

Há anos que aquelas coisas parecidas a cubos de gelo passam sobre a minha cabeça e me desafiam a entrar, a conhecer, a explorar. Se tiver oportunidade faça o mesmo que eu e deixe-se ser Aladino no tapete voador por 32 minutos. É mais ou menos um quarto de hora para cada lado, mas desengane-se se acha que aqui, como na expressão popular, “para baixo todos os santos ajudam”.
É rigorosamente o mesmo tempo. Ainda bem, porque pode subir virado para a montanha e descer virado para mar, sem perder pitada do filme. O teleférico é já uma das jóias da coroa do turismo do Funchal. Durante todo o dia, as cabines deslizam nos cabos quase em linha com uma das ribeiras da cidade e é uma boa proposta para um passeio num destes dias de Verão.Estava cheio. Por momentos pensei que a devoção a Nossa Senhora do Monte tinha já trazido o arraial, dois meses mais cedo, mas percebi depressa que era só mesmo para “chegar lá acima”. Sem motivos religiosos. A entrada faz-se quase em câmara lenta, mas se demorar não há problema, a estação é tão bonita nas suas vidraças que permitem a visibilidade a 360 graus, que até vamos apreciando o mar ali ao lado.

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Entro. Tenho por companhia um jovem casal que veio do Porto Santo, onde procurou praia e segue para Lisboa na mesma noite. Não quer perder o teleférico, já andaram noutros, mas este é especial porque, explica-me o rapaz, a maneira como a cidade está disposta não encontra em mais nenhum lugar. Às vezes, explica-me, há cidades e lugares que fazem lembrar outros e o Funchal não é parecido com nada que eu tenha visto até hoje.

Ainda bem, penso eu, Pedem-me uma foto, fazem-me perguntas. Ele quer saber onde são os estádios, mostro-os de um e de outro lado da cabine e ela delicia-se com o gado que lancha num terreno ali perto. Já deixámos a malha urbana, passámos pela Ribeira de João Gomes e vejo a adrenalina dela por detrás dos óculos.

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Parece afastar-se da janela, como se isso resolvesse o facto de estarmos no ponto mais alto do percurso, mas a beleza da cidade que se estende como um lençol a meia tarde, depressa a distrai. Informo-a que nunca houve registo de acidentes, da segurança da viagem e da beleza que pode desfrutar, sem ter de se preocupar com estacionamentos. Quando chegar lá acima, à estação, só tem de pôr o pé em terra firme e ir em direção à Igreja. Não para agradecer ou pedir alguma coisa, mas para apreciar uma das mais bonitas construções da ilha, a tal Igreja que tem no seu altar-mor a imagem venerada desde o início do povoamento da ilha, mas que tem também o túmulo do Imperador austríaco, Carlos de Habsburgo, que se exilou na Madeira há quase cem anos.

Foram vê-lo. Eu optei por visitar os jardins do Monte Palace, jardim tropical que envolve os três edifícios que albergam a coleção Berardo e voltei à cidade. Há mesmo um combinado, bastante atrativo, entre o Teleférico e o Museu, podendo ser adquirido na estação inicial.

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Voltei à estação, mesmo ali ao lado. Aproveitei para tomar um café na esplanada do edifício que oferece uma vista ímpar, não fosse o doce embalo da cabine me adormecer e eu perder a paisagem que faltava registar. Desci em direção à cidade. Entre mudos e calados, éramos quatro. Um casal que sussurrou uma ou duas frases como se quisesse manter em segredo o que se diz numa cabine fechada e climatizada, porque o ar fresco e o isolamento dos vidros impede que se a temperatura se torne desagradável e ao meu lado uma jovem agarrada ao tablet, como se o fosse perder.

Apreciei uma vez mais a montanha e as casas dispersas a darem lugar a uma malha mais densa que só parou na estação dos jardins do Almirante Reis. Lá ao fundo, no mar, uma regata de pequenos veleiros, aqui mais perto, mesmo por baixo do chão da cabine, os terraços e telhados, às centenas, que bordam a cidade.

Cada vez mais perto, parece que a tela do filme aumenta, quando vejo as casas da Zona Velha a quererem entrar no teleférico. Saio dali e atravesso o jardim, enquanto a sombra das outras cabines passa sobre a minha cabeça. Para uma tarde de sábado, o programa fresco e sem preocupações é uma tentação a repetir, um dia destes. Em qualquer dos sete dias da semana.

A cal que me encheu a alma

By Inesquecível 1.239 Comments

Fui fazer a Rota da Cal. Descobri que a NASA esteve metida ao barulho, sete milhões de anos depois. E dei comigo embalada num património cultural, histórico e económico de me deixar de queixo caído.

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Cheguei cem anos atrasada. Mas deu para perceber tudo, pela prosa de Joel Freitas, que um dia pediu o forno à tia e o transformou num percurso pedonal pela nossa história. Não perca a oportunidade de lá ir.

Está aqui, bem perto, onde o sol nasce ao contrário e onde o vale escavado de São Vicente nos mostra que a Laurissilva é vizinha porta com porta da pedreira usada durante o século XX para extrair a cal que alimentava famílias inteiras naquela freguesia. A começar pela do avô de Joel, que deu início à exploração de cal naquele sítio e que nunca imaginou que, um século depois, o neto a ia transformar em atração turística.

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A construção do forno da Cal do Barrinho remonta a 1902, apesar de já existirem referências anteriores. A história derrama-se pelas paredes de pedra aparelhada, alguma nova e outra original, que se estende à nossa frente e que guarda uma fonte incalculável de sabedoria, em forma de pesos, de medidas, de cestos e cirandas que descansam em prateleiras e recantos.

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Eu até podia contar-lhe que a Rota da Cal está desenhada para ser visitada em meia hora, começando pelas pedreiras e terminando no Núcleo Museológico, até podia aconselhá-lo a perder-se no verde da montanha e no branco da pedra calcária, mas deixaria de ser o seu passeio. Se quiser, pode mesmo adquirir o seu bilhete aqui.

Deixe-se chegar aos Lameiros, respire a Laurissilva, entre na estrada de terra batida e erva verdinha que o transporta imediatamente para o campo, se ainda não tiver mergulhado o seu espírito no ambiente e desfrute.

Primeiro, desfrute da paisagem. Vire-se para um lado e vislumbre a montanha quase a 90 graus sobre a sua cabeça e, para o outro, aprecie o sítio das Ginjas, saído de um postal, sarapintado de casas multicolores. Suba às pedreiras e depois desça para o espaço que alberga fósseis com sete milhões de anos. Dito e confirmado pela insuspeita NASA. Com uma particularidade. Os fósseis são marinhos. É verdade, a meio da serra, onde nunca se imaginou que houvesse conchas, mas vi-as. E fotografei-as. E comparei-as com uma moeda, para aferir o tamanho. Ia eu à procura de cal e dei com isto. Mas depressa me lembro que a rocha é calcária.

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Entro no edifício do Núcleo Museológico de novo. Nos minutos anteriores andei à descoberta de tudo, como se não fosse voltar ali, cheia de vontade de explorar o passado, há qualquer coisa de Indiana Jones no ar, há todo o tipo de ferramentas, utensílios e há um forno, o tal forno onde se cozia quase toda a cal usada na vida da costa norte.

Depois sentei-me. Vi o vídeo, voltou a cair-me o queixo. A história arrepia-me. Deixa-me sem palavras e até sinto nos ombros a dor daqueles homens, mas sobretudo daquelas mulheres, que carregavam os alqueires de cal serra acima, horas a fio.

Voltarei. A rota da cal não se saboreia de uma vez. Como qualquer pedra de calçada feita com calcário dali extraído, há que passar muitas vezes. Se quiser, passe já este sábado. Porque domingo e segunda são dias de descanso para quem nos guia e nos mostra a história, perdida e reencontrada no meio de São Vicente.

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Olha o golfinho!

By Inesquecível 4.963 Comments

Mais do que mergulhar com os golfinhos, atrevi-me a mergulhar na aventura das duas horas seguintes. Queria experimentar ficar com aquela cara de satisfação que via nos turistas ao saírem da embarcação, todos os dias, na Marina do Funchal. Pensei que seria a única madeirense a bordo, mas depressa percebi que não era a única cá da terra a aproveitar os trunfos que trouxeram o galardão de Melhor Destino Insular do mundo, Confere!

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Saímos a meia tarde, depois da concentração nos escritórios da Rota dos Cetáceos, no Marina Shopping. A Sara, a sorridente bióloga marinha que faz as honras da casa, deixa por terra qualquer indício de má disposição.

Em duas pinceladas de dez minutos diz-nos o permitido e o proibido e quer saber se somos marinheiros de água doce.Enjoar é permitido, mas alimentar os golfinhos com o nosso almoço, só borda fora. Acho que era para assustar, porque a viagem é tão confortável que nos esquecemos de ficar mal dispostos.

Depois do indispensável “briefing” de segurança em português e inglês entramos a bordo do Rota dos Cetáceos III. Ricardo espera-nos com os coletes e, um a um, sentamo-nos, com o casal da frente a preparar o mergulho de Go pro e tudo.

Dez minutos depois, Sara pede-nos para olhar para a direita. Meia centena de golfinhos comuns prepara a dança com que nos vai brindar, mulheres e crianças á frente, bebés que não largam as mães, os machos atrás, a controlar tudo o que se passa, não vão os humanos incomodar a família.

Controlam mesmo tudo. Mas parecem descansar quando vêem a forma da embarcação, como se não temessem a intervenção humana nas suas andanças. De facto, Sara avisara que esta seria uma visita ao habitat natural dos golfinhos e não a um qualquer zoomarine, onde se pode tirar fotos com animais amestrados. De tal forma, que “não incomodar” é a palavra de ordem.

Dali para a frente quis mesmo ter olhos em todos os lados da cabeça. Os tipos parecem saber que têm de mostrar-se nos dois bordos e fazem a vontade aos passageiros sentados em todos os lugares. Uns dançam, outros ficam abaixo da linha de água e só deixam ver a silhueta clara e fugidia. Seguimos as instruções. Um lado da embarcação fica de pé e o outro permanece sentado, por questões de segurança.

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Os golfinhos, que parecem exibir-se para os turistas, continuam por mais um tempo até que desistem de nós. Chamam-nos um bando de asas esvoaçantes, quase anunciando o lanche.

A mesa está posta. De novo,. mulheres e crianças à frente. Os homens cercam o cardume sinalizado pelas gaivotas e começam a preparar a refeição. Deliciamo-nos tanto com a experiência como eles com o peixe.

Posam para a fotografia e voltam para perto do Rota dos Cetáceos III no mesmo instante em que regressam, de novo, para perto do cardume do lanche. Mesmo que os bebés ainda se alimentem de leite materno, o que acontece durante o primeiro ano de vida, depois de um ano no ventre da mãe, o resto da família serve-se e abandonamos o cenário. Não nos é permitido incomodar mais, a hora da comida é sagrada e aqui não há baldes de peixe atirados um a um à boca.

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A história repete-se há vários anos. A Rota dos Cetáceos mostra todos os dias a largas dezenas de turistas o que temos ali perto da costa, entre as 28 espécies de cetáceos que por aqui nadam. Sejam elas residentes ou estejam de passagem. De Verão ou Inverno.

Um destes dias, quando quiser viver duas horas diferentes, apetreche a mochila com a máquina fotográfica e vista uma roupa confortável. Aventure-se com os golfinhos, baleias e companhia, aqui mesmo ao virar da esquina.