Skip to main content
Gente que Marca

Idalina Perestrelo diz que pinheiro de plástico não é ambientalista

By 11 Dezembro, 20174.312 Comments

Quando nos sentámos na pequena sala onde os raios de sol entravam no final da tarde de Outono, a conversa foi para uma direcção diferente daquela que eu pensava. Saí dali com vontade de deitar fora a árvore de Natal de plástico que armo religiosamente há vinte anos e arranjar um pinheiro natural, medida muito mais ambientalista do que eu pensava.

Idalina Perestrelo é a mulher que dá bom ambiente à Câmara Municipal do Funchal. No seu segundo mandato na equipa liderada por Paulo Cafôfo, a ambientalista que abomina pinheiros falsos é uma cara conhecida desde que aos 21 anos chegou a presidente da Associação Ambientalista Quercus, seis anos depois de ali ter entrado. Hélder Spínola, a sua cara metade, foi mesmo presidente a nível nacional da associação ambientalista que deu tantas dores de cabeça a governos e câmaras. Além do amor um pelo outro, sentem o amor à camisola e muitas vezes era o seu próprio dinheiro que gastavam para levar em frente as suas ideias.

É de fácil sorriso. De fácil palavra e de sonhos ao alcance de qualquer um. As alterações climáticas e a pegada ecológica então, estão mesmo ali à mão de semear. Basta que todos remem para o mesmo lado nesta nau tormentosa da separação de lixos, de reciclagem e de reutilização de material. Felizmente, confessa, tem uma boa equipa que transmite aos colaboradores a mensagem que fez diminuir em quase 3 mil hectares globais a pegada ecológica, o que muito orgulha toda a edilidade.

Sendo o único município da região que segue uma estratégia para as alterações climáticas, reconhece que o ambiente é ainda um parente pobre para alguns dirigentes.

Recentemente, conta, para que não se pense que a crítica é para a Madeira, esteve em Vilamoura e Albufeira e as duas cidades contíguas pareciam de dois países diferentes. A primeira, perfeitamente organizada e limpa, a segunda uma desorganização e poluição evidentes.

Nunca poderia ter sido professora, a não ser numa escola que permitisse que os alunos passassem metade do tempo na rua a viver as experiências que levassem a entender que os ovos não nascem nos supermercados. Um local onde vai para dar dores de cabeça aos funcionários, quando chega à caixa com as frutas e as hortaliças todos dentro do mesmo saco reutilizável e recusando amavelmente a oferta do tal saquinho transparente por parte da operadora de caixa. Às vezes é preciso equilibrar as laranjas na balança, mas no final lá se consegue pesar tudo sem ser preciso usar mais plástico do que aquele que o ambiente comporta.

É assim que educa o outro casal lá de casa, com um e três anos. Leva-os pela mão e pelo exemplo aos recipientes certos e só tem reservas no caixote verde, não os deixando pegar nas garrafas.

Tem saudades de cinema, de teatro, até de televisão. E se a convidassem, gostaria de rodar um filme sobre o Funchal dos anos 70, cheio de romantismo e com a liberdade a dar os primeiros passos. Gostaria de ter sido adolescente ou adulta no tempo em que a cidade tinha várias salas de cinema espalhadas pelas ruas e não apenas concentradas em centros comerciais e ainda por cima, na maioria das vezes, com os mesmos filmes.

Quando perguntei se vivia num apartamento ou numa casa, devolveu-me a resposta embrulhada num sorriso. Tem um apartamento, mas com relvado e horta, onde nascem espinafres, couves, ervas aromáticas e afins. É uma espécie de jardim com apartamento, penso.

É dali que às vezes vem o pinheiro de Natal. Nem pensa em outro tipo de árvore, que não seja natural. Até pode ser um galho, mas nunca se atreveria a fazer uma árvore artificial. Quando me admiro com aquilo que penso ser uma preocupação ambiental meio enviesada, responde com uma pergunta: “e para ter a arvorezinha falsa, o que é preciso fazer para obter o plástico?”. Era aquele momento em que me devia levantar do sofá, pousar a chávena de chá e ir embora. Mas em vez disso resolvi ficar e ainda a ouvi dizer que todos os anos planta uma árvore para substituir a natural que lhe chega a casa, mesmo que não seja no mesmo lugar.

Gosta de se pôr no lugar da pessoa que fala consigo, principalmente quando é apresentado um pedido ou feita uma reclamação. É assim desde sempre. Como é desde há muito tempo a sua passagem pela noite do Mercado. Uma volta até as 23 horas, a compra sagrada das tangerinas e a fuga para casa antes da chegada da grande multidão que este ano vai poder contribuir para uma acção solidária.

Não espera menos do que as 26 toneladas de lixo que têm sido gastas anualmente no Natal. Mas reconhece que, sendo esta a era do plástico, produzimos muito, mas conseguimos fugir pouco.  Vê isso quando no final do dia olha para o seu embalão…

A tarde caiu, o sol escondeu-se atrás da cidade e quis saber qual a sua cidade preferida. Paris, a única que repetiu até hoje, mesmo que tenha a máxima de não voltar a visitar destinos num mundo tão grande. E onde vai voltar, pela quinta vez, mesmo que seja quando o casal mais pequeno lá de casa tiver idade para passear com os pais. Até lá, muito bom ambiente se vai viver na Câmara do Funchal, porque há cada vez mais prémios coleccionados.

Join the discussion 4.312 Comments

Leave a Reply