Já vi de tudo a bordo de aviões. Até sou do tempo em que metade dos passageiros se juntava lá atrás, porque não havia lugares de fumadores para todos e os que sobravam ocupavam o estreito corredor para matar o vício.
Sou do tempo em que caíam umas televisões que nos assustaram nas primeiras vezes porque pensávamos que eram máscaras de oxigénio e que mostravam a rota que o avião fazia e uns apanhados e que nos deixavam de olhos em bico porque mantínhamos a cara fixa e o pescoço erguido a ver quanto tempo faltava.
O que não achava era que ia ouvir instruções em chinês dentro de um avião da TAP num voo entre Lisboa e Funchal, ontem à tarde.
A começar pela simpatia do pessoal de cabine, um chefe e três mulheres, uma delas vinda da Austrália. Dito ao microfone. Raios, de onde é que vieram os outros? De Viseu? De Odemira? O que é que eu tenho a ver com o facto de a moça ter vindo da Austrália? Porque isso foi dito pelo chefe de cabine no microfone, quando os apresentou pelos nomes… por sinal uma estratégia utilizada pela Easyjet há anos. A mim ninguém perguntou como eu me chamava…
Eu nem estava ainda sentada quando comecei a ouvir falar chinês. Ainda olhei para dentro do painel e bem para dentro da bagageira a ver se era a minha única amiga chinesa, mas pensei que não era ali que ela ia abrir um restaurante. Depois para debaixo do assento, pois como vinha na fila de emergência podia alguém ter caído lá debaixo, mas também verifiquei que não era nada.
Claro que pensei que era para os “Apanhados”, mas quando vi que metade do avião estava a olhar para o painel sobre as suas cabeças percebi que não era para o programa de televisão. Estavam mesmo a falar chinês dentro do avião da TAP. E, de repente, entre a incredulidade e a vontade de ter aprendido a língua, fiquei sem saber se era para abandonar o avião rapidamente ou para me impingirem o serviço de vendas a bordo que, finalmente, a companhia tem, uma modernice que acompanha os tais dos lugares lowcost que a TAP jurou a asas juntas (aqui os pés juntos não funcionam), nunca iria ter.
Embarcar na porta 25 numa manga já foi um upgrade nos meus parcos hábitos de madeirense. Agora, ouvir instruções gravadas em chinês (que depois acho que foram replicadas em inglês e português), não me garante que eu esteja segura. Porque o pensamento assolou-me. Se é uma gravação como é que traduzem aquela lenga-lenga do “acabámos de aterrar no Aeroporto da Madeira, são neste momento 19 horas e 22 minutos, hora local, a temperatura é de 21 graus”. Ou será que os chineses já têm tradutor automático a bordo dos aviões? Porque fiquei sem saber se ela só queria dizer-me o menu para o jantar…
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