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Inesquecível

Caminho Real nr 23 – Do Funchal até ao… Funchal

Hoje em dia habituámo-nos a ter estradas. Ir almoçar a Santana, ou ao Porto Moniz, dar um salto até ao aeroporto… É fácil esquecer que até há cinquenta anos sair do Funchal era quase uma aventura.

E até à abertura dos Caminhos Reais, na segunda metade de século XIX, era mesmo perigoso. Uma descrição do “percurso” entre o Seixal e São Vicente falava em tábuas presas com vimes, que muito frequentemente caiam, levando sempre com elas algum incauto que estivesse a passar.

O Caminho Real nr 23 é o mais icónico, e certamente o mais importante. Dava a volta à ilha, num percurso que antecipava o que um dia seria a Nacional 101, e depois a Regional 101. As características eram necessariamente outras – tratava-se afinal de uma “estrada” desenhada para ser usada por peões ou, quanto muito, por corças puxadas por bois, logo com exigências diferentes.

Mas foi um passo de gigante no sentido de garantir as acessibilidades e a possibilidade de se deslocar dentro da ilha com um mínimo de segurança – que não de conforto. Aliás, o gráfico de diferenças de alturas anexo mostra bem o esforço necessário para calcorrear estes Caminhos…

Os primeiros troços foram mandados construir ainda no século XIX, ligando o Funchal a Santa Cruz, Machico e Porto da Cruz e depois Santana. Quando foi terminada esta primeira circular da Madeira tinha características muito distintas, dependendo muito do uso que se estimava ter.

Também era possível identificar prioridades e estratégias distintas nas acessibilidades. Notava-se, por exemplo, um peso maior dado nas ligações aos pequenos portos que existiam na costa, com o Caminho a garantir a ligação ao hinterland. E se há sítio onde isto de nota claramente é nas ligações entre o cais de São Jorge e as vilas de Santana e São Jorge. No cuidado e no esforço evidenciados quer na qualidade da construção, quer na largura do caminho, acesso principal destas vilas aos seus mercados, com o transporte dos produtos agrícolas de barco até ao Funchal.

Características comuns? A utilização da matéria-prima que existia em abundância, nomeadamente a pedra, nalguns lugares basalto laminado, colocado na vertical de forma a resistir melhor à erosão e permitindo melhor aderência ao solo, noutros, mais próximo das praias, utilizando calhau rolado, como é o caso nalguns troços na zona da Calheta. E o cuidado na construção, notando-se um esmero que permitiu a sua sobrevivência, com intervenções e manutenção pontuais, e que só foi posta em causa pela construção de novas estradas.

Veja-se também www.caminhoreal.pt

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